A vida é um eterno exercício de coragem
Esse ano, o meu maior aprendizado foi de que no medo só há prisão, não há vitória!
Todo esse processo começou um dia que comentei com a minha psicóloga que tinha medo de ficar sozinha - aos finais de semana, por exemplo, enquanto minhas amigas estavam se divertindo.
Era um medo de não ser lembrada, considerada, ou mesmo querida para aquelas pessoas. E nesse medo, eu me adiantava, agia inconsciente e impulsivamente, combinava coisas que muitas vezes nem eu mesma gostava ou queria fazer e com pessoas que não tinham nada a ver comigo.
Certo dia, ela me pediu para que eu ficasse propositalmente sozinha no final de semana, sem preencher meu dia com tarefas aleatórias. Eu mal sabia, mas aquele fim de semana seria uma grande virada de chave na minha vida.
Eu chorei, e muito! Chorei de soluçar. Não é tão fácil se deparar com as consequências da vida que você escolheu viver, com a responsabilidade dos frutos que você mesmo plantou. Até então eu vivia uma vida ocupada demais para me dar conta que nada do que eu estava plantando realmente importava para mim (ok, com um quê de exagero, mas você já vai entender).
Se você me acompanha há alguns anos, certamente já sabe que eu cresci num ambiente familiar extremamente difícil. Emocionalmente desgastante. Com muitas mentiras, falta de responsabilidade e nenhum vínculo afetivo com minha mãe ou com meu pai (e aqui não estou exagerando) - você pode ler um pouco sobre essa minha história aqui, ou aqui.
Por inúmeros fatores, foi muito difícil pra mim aprender a estabelecer vínculos de amizade profundos e sólidos. Eu sempre preferi o caminho que dá pouca margem para erro - o da superficialidade. E me escondia atrás de uma pilha de trabalho, compromissos, e afazeres para não ter que lidar com isso. Resultado? Solidão. Vínculos tão frágeis quanto uma pétala de flor. Era óbvio que eu não seria a primeira ligação, ou a primeira opção de companhia para uma amiga.
Diante disso, comecei a notar em quantas áreas da minha vida o medo era soberano, me fazendo recuar, me sabotar ou me anestesiar - com comida, com compromissos, com as mais diversas armaduras (status, fama, imagem…).
O antídoto eu tinha acabado de descobrir: O ENFRENTAMENTO!
Não existe forma melhor de se fortalecer do que, voluntariamente, enfrentar seus medos e desconfortos, pouco a pouco. Conscientemente olhar para aquilo que te amedronta e escolher, no seu tempo, e da sua forma, continuar caminhando em sua direção.
Bom, enfrentei aquele fim de semana e, com dor e bravura, tantos outros dias e momentos que me deixaram mais forte simplesmente por enfrentar as situação bem como se é, e não como eu gostaria que fosse.
Precisei olhar para um relacionamento doentio e aceitar que ele jamais seria o que eu gostaria que fosse. Precisei assumir que pode ser mesmo que eu fique "sozinha" por toda a vida, e então eu precisava construir uma vida que fosse boa pra mim. Precisei que eu me tornasse minha melhor companhia e quem eu mais confio. Precisei assumir os lugares e amizades que eu queria vivenciar, e os que não faziam o menor sentido - e abrir mão desses. Precisei fazer uma grande limpa no meu "guarda roupas" e deixar somente aquilo que realmente tinha a ver comigo. E pra isso, eu precisei olhar pra mim: quem eu sou, de verdade? Do que eu gosto, de verdade? Quais os meus valores inegociáveis? Qual a realidade que vivo e o que eu posso - e quero - fazer a partir dela? Me livrei de trabalhos e pessoas que queriam que eu fosse qualquer coisa diferente do que eu sou. Mas também olhei para as partes mais feias de mim, abracei cada uma delas, e busquei entender qual seria o destino delas.
Resultado: 2022 acabou sendo o ano que mais amadureci na vida. O ano em que deixei para trás medos enraizados, enfrentando com coragem cada um deles. Em meio a muitos choros, frio na barriga, desafios e aprendizados, termino um dos anos mais incríveis da minha vida. Não porque ganhei prêmios, saí em revistas, viajei para mil lugares, etc - como antigamente. Mas porque chego ao final dele leve e orgulhosa de quem tenho me tornado. Porque tive coragem de assumir para mim mesma que dou mais valor a coisas que são realmente significativas, e elas fazem de fato parte da minha vida agora, graças a minha dedicação e enfrentamento.
Eu finalmente saí do espectro do medo e mergulhei na construção do que eu queria viver. Finalizo 2022 ao lado das pessoas que eu amo, trabalhando com o que acredito, convivendo com aqueles que não concordam comigo ou com o meu jeito de forma mais segura, entendendo que eu não preciso agradar ninguém porque eu sou a única pessoa que convive comigo mesma TODO santo dia.
Finalizo o ano sabendo que qualquer que seja o desafio que porventura possa vir, eu vou ter a bravura necessária para enfrentá-lo, e sem mais buscar pertencimento ou defeitos em mim mesma através de ferramentas de autoconhecimento ou ideologias (mas esse é um assunto para um outro email…).
Termino 2022 com as maiores riquezas que eu poderia ter conquistado: paz, clareza e segurança!
Há muita riqueza aí - em abrir os olhos para a realidade. Só assim acessamos a possibilidade de realmente agir diante do que a vida nos apresenta. E é só agindo em cima da realidade que podemos colher frutos reais, consistentes, e que, independente de qual seja, chega sempre em forma de aprendizado.
Eu espero que em 2023, você encare a vida assim: como um eterno exercício de coragem para se libertar das amarras que te impedem de construir uma vida que seja boa para si.
Quando você não se dá outra saída, você encontra um meio! ;)
(E se você quiser conversar sobre tudo isso, não hesite em me escrever <3)